O Fronteiras Cruzadas estará presente no XIX Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho – ABET. O evento acontece na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e propõe como tema central a questão do trabalho e dos direitos no século XXI.
As atividades são organizadas pelo Grupo de Trabalho 14, que tem enfoque no tema “Trabalho, Relações Étnico-Raciais e Migrações”. O GT 14 é coordenado por Márcio Farias (PUC-SP), Mariana Roncato (UFPB) e Jair Batista (UFBA).
A primeira atividade será na quinta-feira (31/7, às 10h) com a mesa-redonda: “Trabalho migrante como laboratório da precarização e da resistência”, com Mariana Roncato (UFPB), Camila Betoni (UFSC), Karina Quintanilha (USP) e mediação de Patricia Rocha Lemos (USP).
Na sexta-feira (1/8, às 14h), à convite da Profa. Célia Vendramini e da Profa. Soraya Franzoni do Núcleo de Estudos sobre as transformações no Mundo do Trabalho (TMT) da UFSC, o Fronteiras Cruzadas organiza uma roda de conversa sobre experiências de projetos de extensão universitária com imigrantes e refugiados/as, com a participação de integrantes da equipe na FFLCH-USP.

Mesa Redonda (MR-22) Trabalho migrante como laboratório da precarização e da resistência
Local: UFSC – CFH – Auditório do Bloco B (térreo)
Camila Souza Betoni (UFSC), Karina Quintanilha (USP), Mariana
Shinohara Roncato (UFPB), Patrícia Rocha Lemos (USP/ABET)
31/7, 10h30 |
O fenômeno migratório interno e transnacional é antigo e não se restringe ao que se convencionou chamar de migração laboral, ou seja, a mobilidade humana motivada principalmente pela busca por melhores condições de trabalho e oportunidades de emprego. Contudo, cada vez mais, estudos reconhecem que, mesmo a mobilidade impulsionada por fatores diversos – tais como guerras, violências e desastres ambientais que produzem anualmente recordes de pessoas em situação de refúgio – são expressões da crise do capitalismo. Nesse sentido, partimos da perspectiva de que o fenômeno migratório não é um processo individual e transitório, mas condicionado pela dinâmica global do capitalismo e, particularmente, pela divisão internacional do trabalho e pelas condições do mercado de trabalho global. Os fluxos migratórios acabam por ser tanto um sintoma quanto uma reação às dinâmicas de funcionamento desse mercado. Aos trabalhadores e trabalhadoras migrantes transnacionais, enquanto essencialmente força de trabalho “provisória e temporária” se destinam “lugares arranjados” com as piores condições de trabalho e de reprodução social da vida, lugares racializados e generificados que, ao mesmo tempo, são produzidos e reproduzem relações de opressão. Através desse debate, esta mesa propõe a discussão do trabalho migrante enquanto fundamento e paradigma para desvelar as tendências no mundo do trabalho, trazendo exemplos nacionais e internacionais de pesquisa. Nossa hipótese é de que a condição de trabalhadores e trabalhadoras migrantes constitui-se quase sempre e de forma violenta como o prenúncio do que de pior se forja nas relações laborais nas suas mais diversas expressões: na informalidade, na plataformização do trabalho, no desemprego, na fragilização dos vínculos, nos mecanismos de controle, na divisão racial e sexual do trabalho etc. Ao mesmo tempo, forjam-se organizações e lutas que apontam também caminhos possíveis de resistência da classe trabalhadora.
Roda de conversa Fronteiras Cruzadas: experiências de projetos de extensão universitária com imigrantes e refugiados/as
1º de Agosto, 14h às 17h
Local: UFSC (sala CCS – B001 / térreo)
Com:
Daniel Perseguim (USP)
Karina Quintanilha (USP)
Patricia Rocha Lemos (USP)
Mariana Roncato (UFPB)
Mediação: Profa. Célia Vendramini (UFSC) e Profa. Soraya Franzoni (UFSC)
Organização: Núcleo de Estudos sobre as transformações no Mundo do Trabalho (TMT) / Fronteiras Cruzadas (FFLCH-USP) / Grupo de Pesquisa Cidade e Trabalho (FFLCH-USP)
Apoio: ANBET / Cátedra Sérgio Vieira de Mello (UFSC)
Essa roda de conversa é um convite para pessoas interessadas em conhecer e atuar sobre a questão da imigração, incluindo o refúgio, a partir de perspectivas críticas e engajadas com a garantia de direitos humanos e do trabalho.
A atividade, gratuita e aberta, busca conectar projetos de pesquisa e de extensão realizados entre grupos universitários e migrantes a fim de ampliar as redes, vozes e movimentos capazes de transpor as fronteiras entre sociedade, migração e universidade no atual contexto de crise multidimensional que produz recordes de pessoas em situação de deslocamento forçado.
Saiba mais sobre o (GT-14) – Grupo de Trabalho ‘Trabalho, relações étnico-raciais e migrações’
Coordenadoras/es: Márcio Farias (PUC-SP e AMMAPSIQUE), Mariana Shinohara Roncato (UFPB), Jair Batista (UFBA)
O Grupo de Trabalho tem como objetivo acolher o debate relativo à discussão crítica sobre trabalho e relações étnico-raciais, considerando a formação social e histórica brasileira e os mecanismos de barragem à população negra na distribuição de trabalhos desde a República, buscando trazer as conexões de tais mecanismos com os processos de escravismo colonial e o modo de construção do processo de abolição no país.
Em relação aos estudos do trabalho e migrações, serão contempladas as análises dos fluxos migratórios nacionais e internacionais em seus diversos aspectos, tais como a) os nichos de trabalho étnico-raciais dos migrantes em um país ou região; b) as diferenças entre trabalhadores autóctones e migrantes; c) as experiências laborais dos migrantes relativas às discriminações raciais, étnicas e xenofóbicas; d) os impactos das discriminações para a reprodução social da vida (moradia, acesso à saúde, situação jurídica, etc…); e) a articulação entre trabalho migrante, raça e gênero, entre outras opressões. Sobre a temática étnico-racial, serão contempladas as pesquisas sobre racialização e etnicidade no mercado de trabalho contemporâneo, ações coletivas e movimentos de trabalhadores que se articulam e organizam em torno da noção política de raça, além do predomínio da população negra na informalidade, em empregos precários e penosos. As dimensões materiais e subjetivas da construção de lugares de trabalho “de negros”, “de migrantes”, na sociedade brasileira também serão incorporadas, bem como as conexões entre divisão racial e sexual do trabalho e suas implicações. Capitalismo, colonialismo e suas articulações com as relações raciais no trabalho são também objetos de interesse deste GT.
Ademais, as interpretações étnico-racializadas do capitalismo, da exploração de classe e das resistências de trabalhadores e trabalhadoras serão igualmente consideradas. Este Grupo de Trabalho visa agregar um campo de pesquisa amplo dentro do debate sobre raça, etnia, migração e trabalho, abrangendo diversos nichos e eixos, tais como: trabalho rural; trabalho industrial; trabalho plataformizado e uberização; trabalho da reprodução social; serviços; informalidade; desemprego; racialização e escravização; trabalho e subjetividades; resistências, entre outros possíveis enquadramentos.
Referências Bibliográficas:
Livros e capítulos de livro
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Relatórios e Estudos de Casos
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