Projeto de extensão na Unicamp desenvolve tecnologia social com imigrantes

Inspirado nas experiências do Fórum Fronteiras Cruzadas na Universidade de São Paulo (USP), o projeto “Formação de Rede Sociotécnica com Imigrantes e Refugiados” acontece pela primeira vez na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Inscreva-se e participe!

Diante da atual crise agravada pela pandemia, o projeto de extensão organizado pelo Fórum Fronteiras Cruzadas e o Grupo de Pesquisa Metamorfoses do Mundo do Trabalho (CNPq) propõe iniciativas a serem realizadas pela comunidade da Unicamp em conjunto com associações/coletivos de imigrantes, dentre elas: atividades de formação, produção de vídeos, sarau, e uma cartografia digital da rede sociotécnica de apoio aos direitos de imigrantes e refugiados em Campinas e São Paulo.

Embora sejam crescentes as iniciativas e pesquisas nas universidades relacionadas às migrações internacionais, ainda há uma necessidade evidente de organizar políticas e atividades com as populações migrantes, que podem ser desenvolvidas no âmbito universitário. Além de colaborar para o conhecimento das demandas desse grupo social, a presença de imigrantes e refugiados nas Universidades significa um enriquecimento intelectual e cultural para os estudantes, docentes e para todos que fazem parte desta comunidade.     

No Brasil, no que se refere ao plano jurídico, houve avanços recentes com a aprovação da Lei de Migração de 2017 – fruto da luta de migrantes junto com entidades representativas. No entanto, o Brasil não está separado do contexto geopolítico global, que hostiliza esse grupo social, formado sobretudo por populações do Sul global, e dificulta o acesso a direitos, a exemplo da saga enfrentada para obtenção do auxílio emergencial.

As condições de precariedade no trabalho e na vida cotidiana têm se acentuado durante a crise sanitária da Covid-19, atingindo de forma ainda mais brutal imigrantes em situação indocumentada e/ou que desconhecem o idioma, as leis e códigos culturais, estando mais expostos a demissões arbitrárias, ameaças de despejos, trabalho análogo à escravidão, violência doméstica e racial, criminalização, dentre outras violações recorrentes agravadas por falta de políticas e redes de apoio. Para enfrentar esse cenário de crise, as comunidades migrantes se mobilizam em torno de campanhas de solidariedade e para reivindicar #RegularizaçãoJá, dentre outras iniciativas como #SomosJoãoManuel, por justiça em resposta à violência racista e xenófoba contra comunidades africanas em São Paulo, e pleiteam políticas de inclusão, como a inserção da nacionalidade nos formulários da Covid19 no SUS.

Articulado em torno dessas questões, na mesma linha de experiências realizadas pelo Fórum Internacional Fronteiras Cruzadas desde 2017 na USP, o projeto “Formação de Rede Sociotécnica com Imigrantes e Refugiados” na Unicamp propõe quatro eixos de trabalho:

1. Informação e direitos (pesquisa e engajamentos):  produção de cartografia para georreferenciar redes de apoio na UNICAMP e nos serviços públicos de atendimento à população migrante de Campinas e região metropolitana de São Paulo, órgãos de justiça (Ministérios Públicos, Defensorias) e demais organizações (universidades; ACNUR; OIM; movimentos sociais, sindicatos e organizações não governamentais; coletivos e associações);

2. Tecnologias e novas mídias: formação de grupo de Whatsapp do projeto para conexões entre comunidade da Unicamp e representantes das associações de imigrantes parceiras; produção de vídeos para ampliar a visibilidade das pautas e lutas migrantes; continuidade da plataforma colaborativa COVID-19 e Solidariedade com Imigrantes e Refugiados;

3. Arte, cultura e performance: Sarau Multicultural Fronteiras Cruzadas organizado por estudantes da UNICAMP, colaboradores do Fórum, artistas imigrantes e centros de acolhida;

4. Trabalho imigrante e organização coletiva: visitas às associações de imigrantes para troca de experiências e levantamento de demandas sobre atividades formativas. Ao final do projeto, haverá evento de encerramento na UNICAMP organizado pelo Grupo de Pesquisa Metamorfoses do Mundo do Trabalho com a participação das associações e parceiros.

Acreditamos no potencial de ações dialógicas articuladas com estudantes, docentes da graduação e pós-graduação, bem como funcionários técnico-administrativos da UNICAMP, para fortalecer as redes de solidariedade e produção sociotécnica engajada com as comunidades e movimentos de imigrantes, de modo que o conhecimento produzido na Universidade reflita também sobre políticas e ações concretas para essas populações e junto com elas.

SAIBA MAIS

Cortejo-Sarau Fronteiras Cruzadas com Centro de Acolhida Imigrante (Casa de Assis), com bloco América Latina em Chamas e apoio do Teatro Oficina em São Paulo (março/2020). Crédito foto: Giovanni Francischelli.

O projeto conta com o apoio de docentes, estudantes e imigrantes de diversas formações ligados ao Fórum Internacional Fontié ki Kwaze – Fronteiras Cruzadas, uma iniciativa acadêmica, social e artística multicultural que nasceu em 2017 na Universidade de São Paulo (USP) com apoio do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP-CAPES).

Dentre as proponentes do projeto na Unicamp, aprovado pelo 2o Edital PROEC – PEx – 2020, estão as pesquisadoras Karina Quintanilha (IFCH-Unicamp) e Patrícia Villen (Núcleo de Pesquisa Odisseia Abdelmalek Sayad – Unimontes), com coordenação geral do Prof. Ricardo Antunes (IFCH- Unicamp) do Grupo de Pesquisa Metamorfoses do Mundo do Trabalho (CNPq).

Além dos proponentes, participam da equipe do projeto:

Pelo IFCH-UNICAMP: Maria Luiza de Oliveira, Mariana Roncato e Willians Santos. E as ex alunas Julia Scavitti (UASLP-México) e Amanda Camargo (USP).

Pelo PPGMUS-IA-UNICAMP: Mariana Teófilo (Unicamp).

Parcerias na Unicamp: Cátedra Sergio Vieira de Melo, Observatório das Migrações em São Paulo – NEPO, Profa. Bela Feldman.

Parcerias externas: estudantes, pesquisadores, professores ligados ao Fórum Internacional Fontié ki Kwaze – Fronteiras Cruzadas (USP), instituições e associações de migrantes a serem contatadas.

Comunicação: edição de vídeos – Daniel Perseguim (Movite-UFU); design gráfico – Cássio Abreu (Mooa Studio); comunicação social – Jamyle Rkain.

Dentre as conexões com associações de migrantes já estabelecidas pelo Fórum e que pretende-se estreitar com este projeto estão:

  • União Social dos Imigrantes Haitianos-USIH;
  • Casa de Assis (Sefras);
  • Coletivo Si, Yo Puedo (Praça da Kantuta);
  • Coletivo de Base Warmis;
  • Kasinha Bay4s Cultural;
  • Ong África do Coração;
  • Associação da Comunidade da Guiné Bissau;
  • Cooperativa de empreendedores Bolivianos imigrantes en vestuário y confecção (COEBIVECO);
  • Sindicato Municipal dos Empregados Domésticos de São Paulo;
  • Comunidade Congolês no Brasil (CCB)

Além da conexão com esses coletivos de São Paulo, o projeto busca articular ações com comunidades imigrantes e serviços públicos em Campinas em conjunto com redes de pesquisa e apoio a imigrantes e refugiados da própria Unicamp, dentre os quais se destacam o trabalho de referência desenvolvido pelo Observatório das Migrações em São Paulo; pela Cátedra Sérgio Vieira de Melo, ligada ao ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados); pelo Centro de Estudos Migratórios (CEMI); dentre outros.

Além dos grupos de pesquisa, departamentos, estudantes e docentes estrangeiros, o projeto também almeja se conectar com discentes e trabalhadores/as imigrantes da comunidade universitária, principalmente terceirizados, de diversos países (sobretudo no corte de grama e limpeza dos jardins).

Convidamos a todes que possam se interessar em contribuir com esse projeto em caráter interdepartamental, multicultural, interdisciplinar e de extensão aprovado no edital da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura!

PARTICIPAÇÃO

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