Seminário Ambulantes e Cidade

Cartografias da economia popular, tensões nos territórios, conflitos e práticas de resistência, durante a pandemia da Covid-19

02, 09, 16 e 23 de setembro 2020

SOBRE O SEMINÁRIO

O comércio ambulante foi duramente afetado pela pandemia. O trabalho dos ambulantes depende da circulação e mobilidade urbana, do uso regulado das ruas e praças da cidade. Em sua maioria sem acesso aos chamados recursos de emergenciais do Estado, o isolamento social torna-se impraticável para os trabalhadores que fazem do comércio de rua seu modo de vida e de trabalho. Não bastasse o fechamento dos estabelecimentos comerciais, a truculência policial e a apreensão de mercadorias tem sido mais do que recorrente, afetando de forma ainda mais drástica os mais expostos e vulneráveis às investidas das forças policiais – os trabalhadores do “corre” entre os quais é grande a presença de migrantes de várias nacionalidades.

Neste contexto, o Seminário Ambulantes e Cidade: cartografias da economia popular, tensões nos territórios, conflitos e práticas de resistência, durante a pandemia da Covid-19 será promovido a fim de compreender e cartografar o impacto da pandemia no comércio popular na cidade de São Paulo, as tensões e conflitos em torno de formas de controle dos espaços urbanos, bem como as ações e iniciativas de redes e formas de articulação utilizadas pelos trabalhadores ambulantes para lidar com os bloqueios e impasses no exercício do seu trabalho nesses espaços.

O evento é coordenado pelo Grupo de Pesquisa Cidade e Trabalho (USP) e promovido em parceria com o Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, Fórum Fronteiras Cruzadas, União Nacional das Trabalhadoras e Trabalhadores Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab), Fórum dos Ambulantes de São Paulo, Laboratório de Justiça Territorial – Labjuta (UFABC) e Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzine (FAU). O evento é online, gratuito e acontecerá durante todas as quartas-feiras do mês de setembro. A transmissão também será disponibilizada pelas páginas de Facebook do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos e confirmar demais.

PROGRAMAÇÃO

Para os inscritos, o evento contou com a utilização da plataforma Zoom.

Mesa 1: Controle urbano e de corpos, criminalização dos atores e violência policial

Expositores:
Benedito Roberto Barbosa (Centro Gaspar Garcia, CMP)
Kleber (Fórum dos Ambulantes)
Daniel Hirata (UFF)
Mediação: Ana Lídia Aguiar (USP)
Debatedora: Vera Telles (USP)

Esta mesa tem por objetivo discutir as formas de controle e repressão do Estado e os modos pelos quais o poder público vem atuando para acelerar as práticas de “limpeza urbana” das áreas centrais da cidade, que não são de hoje, e que sempre se esbarram na presença incontornável do trabalho informal e do comércio de rua. O objetivo é discutir os modos operatórios do controle sobre os corpos e da engrenagem da violência posta em ação para o controle dos espaços urbanos e para manter a suspensão das atividades do comércio popular, em particular do comércio de rua, mobilizando força policial (repressão violenta) e poder político-administrativo ao suspender permissões por tempo indeterminado, bloquear circulação, fazer o confisco arbitrário (e violento) de mercadorias, etc.

Mesa 2: Cidade invisível: subnotificação de dados, “desaparecidos” urbanos

Expositores:

  • Renato Abramowicz (Observatório das Remoções e LabCidade, USP)
  • Mariana Nunes Taguti e Debora Sanches (FAU Mackenzie)
  • Maíra Vanuchi (StreetNet – Unicab)
  • Mediação: Sidney Jard (UFABC)
  • Debatedor: Luiz Kohara (Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos)

Veja como foi o segundo debate

Esta mesa propõe discutir os dispositivos de invisibilização dos trabalhadores ambulantes e as formas de resistência e/ou contornamento que estes trabalhadores acionam para garantir suas formas de vida e de trabalho. Pretende-se compreender os dispositivos de invisibilização em dupla chave: de um lado, as várias circunstâncias que bloqueiam o seu acesso as recursos emergenciais do Estado; de outro, também as várias circunstâncias que produzem as chamadas subnotificações (da contaminação, da doença, das mortes). Interessa desvendar as realidades sociais, econômicas e urbanas que se ocultam por trás dessa “não existência” do ponto de vista das políticas do Estado e por trás dessas subnotificações. Interessa ainda destrinchar as formas de violência inscritas nos modos operatórios pelos quais se produz essa dupla invisibilização. Mas interessa também compreender a forma como os trabalhadores do comércio popular, em particular dos trabalhadores ambulantes, tem lidado com os desafios postos pela pandemia, pelos bloqueios às suas atividades, pelas formas de controle e repressão sobre suas atividades.

Mesa 3: Trabalho ambulante na Pandemia e migração

Expositores:

  • Bruno Durães (UFRB)
  • Cesar Colia (COEBIVECO)
  • Hortense Mbuyi (Conselho Municipal dos Imigrantes)
  • Mediação: Karina Quintanilha (Unicamp / Fórum Internacional Fontié Ki Kwaze – Fronteiras Cruzadas)
  • Debatedor: Lindomar Albuquerque (Unifesp)

Convidados especiais:

  • Fedo Bacourt (USIH)
  • Juan Cusicanki (@FontieForum)
  • Mama Diop (Associação Jaciara de Trabalhadores do Corre)
  • Eduardo Suplicy (vereador SP)

Veja como foi o 3º debate

A presença dos migrantes sempre foi importante na composição e história do comércio popular e do trabalho informal. Desde o início dos anos 2000, no contexto de um rearranjo global nas rotas migratórias, o Brasil tornou-se um importante destino migratório e os centros do comércio popular se configuraram como forma de trabalho para muitos. Migrantes de várias nacionalidades estão presentes nesse comércio, no fornecimento de mercadorias, mas também nas franjas mais precarizadas desses mercados – nos “corres”, principalmente. Grande parte dessa população engrossa as fileiras dos subnotificados e sem acesso a qualquer auxílio emergencial. A proposta aqui é deslindar o modo como os migrantes são afetados pela pandemia e pelas políticas de isolamento social, suas articulações e redes de solidariedade no contexto do comércio popular, driblando a fiscalização e repressão e construindo alternativas ao trabalho. É também objetivo entender como se dá a organização dos imigrantes nas demais malhas urbanas de solidariedade e sua relação com os demais atores sociais que compõem os espaços.

Mesa 4: Mobilidades urbanas, novos arranjos da economia popular e redes de apoio

Expositores:

  • Carlos Freire (UFG)
  • Maria dos Camelôs (Unicab – RJ)
  • Luciana Itikawa (FMU – Wiego)
  • Mediação: Francisco Comaru (UFABC)
  • Debatedor: Fernando Rabossi (UFRJ)

Convidados especiais:

  • Gilson Negão (Sintemei)
  • Antônia Moreira (Fórum dos Ambulantes)
  • Kelly Cristina ( Fórum dos Ambulantes)
  • Cícero José (Sodevibra)
  • Fausto Augusto (DIEESE)
  • Edileuza Guimarães (Atemdo)
  • Lujaye (Entregadores Antifascistas)

23 de Setembro – 14h – 17h

A proposta desta mesa é discutir como os trabalhadores têm se organizado para enfrentar as políticas do Estado e para garantir o mínimo de recursos para manutenção do trabalho e formas de vida. Discutir as alternativas encontradas pelos trabalhadores para o exercício do trabalho, os deslocamentos espaciais-urbanos de suas atividades e dos circuitos do comércio informal, bem como as redes sociotécnicas mobilizadas para apoio às suas atividades. Com o aumento do desemprego e da informalidade em função da crise econômica e sanitária, é importante deslindar as iniciativas, entre invenção e experimentação, nas formas de trabalhar e se movimentar nos circuitos do comércio popular, bem como os novos arranjos que podem estar se construindo face à perspectiva de uma retomada (parcial? seletiva?) das atividades econômicas. Sabemos que não haverá “volta à normalidade”, até porque essa “normalidade” é feita da precariedade e da violência estatal, constitutivas do comércio popular. Por isso mesmo, será importante prospectar e discutir os arranjos sociais, econômicos e políticos que vem sendo tecidos nesses meses. Muito provavelmente, irão se desdobrar nos anos vindouros. E serão importantes para lidar com o cenário de devastação social e econômica que está se configurando em nosso horizonte próximo.

Nos meandros das malhas urbanas, novos arranjos para a circulação de mercadorias, novas rotas de acesso a bens e serviços. Fóruns e formas de articulação, de organização e reinvindicação de direitos e garantias frente ao Estado. Consolidação/ampliação ou construção de redes ampliadas, articulando trabalhadores e habitantes da cidade afetados pelas “políticas de desaparecimento” que não são de agora, mas que agora se explicitam e se intensificam nos espaços da cidade.