Confira a entrevista com Bárbara Trugillo, Superintendente de Desenvolvimento de Mercado da SPCine.

Entrevista com Barbara Trugillo sobre Migração e Políticas Públicas no Audiovisual
Barbara Trugillo é Superintendente de Desenvolvimento de Mercado e Articulação Setorial na Spcine, órgão responsável pelo fomento ao audiovisual em São Paulo. Em entrevista exclusiva, ela compartilha sua visão sobre migração, inclusão social e os planos futuros da Spcine para apoiar refugiados e migrantes por meio de políticas públicas.
Fronteiras Cruzadas: Como você vê a relação entre migração e o setor audiovisual em São Paulo?
Barbara Trugillo: São Paulo é uma cidade marcada pela diversidade cultural, fruto de sua história como destino para migrantes de todo o mundo. No setor audiovisual, essa pluralidade é uma fonte rica de narrativas que podem transformar a forma como enxergamos o mundo. O audiovisual tem o poder de dar voz a essas comunidades, promovendo inclusão e conscientização social.
Quais são os desafios enfrentados por migrantes e refugiados no acesso às oportunidades no setor audiovisual?
Os desafios são muitos, começando pela barreira linguística e falta de redes de apoio. Além disso, há uma necessidade de políticas afirmativas que garantam que essas pessoas tenham espaço para mostrar suas histórias e talentos. A Spcine já tem iniciativas voltadas para grupos sub-representados, mas queremos ampliar isso para incluir migrantes e refugiados em nossos editais futuros.
A Spcine tem planos específicos para fomentar políticas públicas voltadas a refugiados e migrantes?
Estamos trabalhando para incorporar ações afirmativas em nossos próximos editais que contemplem refugiados e migrantes. Queremos criar programas que ofereçam capacitação técnica e artística, além de oportunidades concretas no mercado audiovisual. Isso está alinhado com nossa missão de promover diversidade e inclusão no setor.
Como você avalia o impacto das novas leis sobre migração no trabalho da Spcine?
Temos diversos marcos importantes para consolidar os direitos dos migrantes e refugiados no Brasil. Para nós, na Spcine, ela serve como base para estruturar nossas ações voltadas a essa população. Queremos colaborar com outras instituições públicas e privadas para garantir que os migrantes sejam incluídos não apenas como beneficiários, mas como protagonistas na construção cultural do país.



Quais são os próximos passos da Spcine nesse sentido?
Estamos planejando abrir editais específicos que incentivem projetos audiovisuais criados por ou sobre migrantes e refugiados. Além disso, queremos estabelecer parcerias para oferecer suporte técnico e financeiro a essas iniciativas, e o apoio da SPCine ao Fronteiras Cruzadas na USP com a I Mostra de Cinemas Migrantes foi um passso fundamental para dar início a essas iniciativas. Também estamos estudando formas de integrar esses temas transversalmente em nossas políticas públicas.
Você acredita que o audiovisual pode transformar a percepção pública sobre migração?
Sem dúvida! O audiovisual tem um alcance enorme e pode sensibilizar as pessoas ao mostrar as histórias humanas por trás das estatísticas. Filmes, séries e documentários têm o poder de desconstruir preconceitos e gerar empatia. É isso que queremos fomentar na Spcine: narrativas que conectem as pessoas.
Como os migrantes podem se envolver nos projetos da Spcine?
Estamos criando mecanismos mais acessíveis para participação em nossos editais, incluindo suporte na inscrição e tradução dos materiais necessários. Além disso, pretendemos realizar workshops gratuitos voltados especificamente para migrantes interessados em trabalhar no setor audiovisual. Mas os desafios são grandes, por isso precisamos incorporar essas populações ao processo de desenvolvimento e planejamento das ações públicas.
De qualquer modo, essa é uma história em curso. São vários filmes já produzidos por migrantes que estão nas plataformas de streaming da SPCinePlay. E uma rede de produtores que se constitui de maneira muito dinâmica na cidade, como nos coletivos periféricos, produtoras de cinema e publicidade, universidades.
Qual é sua mensagem para os migrantes que desejam ingressar no setor audiovisual?
Minha mensagem é: não tenham medo de compartilhar suas experiências porque elas podem inspirar mudanças profundas na sociedade. Contem conosco na Spcine para apoiar vocês nessa jornada.
Mas mais do que isso, a história do cinema paulista, brasileiro e mundial foi também elaborada pelas migrações, mas diante de uma conjuntura com novas barrerias para o deslocamento, precisamos reinventar também nossas concepções, as línguas disponíveis nos nossos materiais, as legislações atuais que muitas vezes impõem barrerias, as formas de acesso ao cinema e à produção do cinema e de outras mídias atravessadas pela sétima arte.