Mensagem de Esperança pelo Haiti

* por Vania Belotte

18 de maio de 1803 – 18 de maio de 2025: 222 anos sob a bandeira — Observação, Honra e Esperança para o Haiti

A comuniade haitiana realizou um grande evento no 18 de maio, Dia da Bandeira Haitiana, no centro de São Paulo.

Neste 18 de maio de 2025, celebramos o 222º aniversário da criação da nossa bandeira nacional, este símbolo poderoso, nascido na dor, coragem e esperança. Em Arcahaie, em 18 de maio de 1803, os líderes da Revolução Haitiana tomaram uma decisão histórica: retirar o branco da bandeira tricolor francesa, mantendo apenas o azul e o vermelho, unidos horizontalmente, para representar a fusão dos Negros e Mulatos, das montanhas e das planícies, um só povo, um só destino.

Este gesto simbólico marcou a união contra o opressor, o compromisso com a liberdade e a vontade de construir uma nação independente, livre da escravidão e da dominação colonial.

Poucos meses depois, em 18 de novembro de 1803, a batalha de Vertières, último confronto contra o exército de Napoleão, selou a vitória de um povo determinado a viver de pé. Em 1º de janeiro de 1804, o Haiti proclamou sua independência, tornando-se a primeira república negra livre do mundo, um ato revolucionário que abalou a ordem colonial e inspirou os povos oprimidos de todos os cantos do planeta.

222 anos de independência: Quais os frutos para o Haiti?

Hoje, após mais de dois séculos de soberania, é hora não apenas de comemorar, mas também de refletir. Este 222º aniversário deve ser ocasião para um balanço lúcido: o que fizemos com este legado sagrado?

O que podemos celebrar:

  • Independência nacional: conquistada pelas armas, contra uma das maiores potências militares do mundo da época.
  • Orgulho cultural haitiano: uma língua única, música vibrante, literatura de resistência, fé inabalável e riqueza artística incontestável.
  • Resiliência do povo haitiano: apesar das catástrofes, ditaduras, fomes e crises políticas, o Haiti nunca deixou de existir, e seu povo nunca deixou de lutar.

O que devemos reconhecer com humildade:

  • Traição repetida do ideal de Vertières e Arcahaie: corrupção, instabilidade crônica, ausência de visão coletiva, impunidade.
  • Elite frequentemente desconectada do povo e motivada por interesses pessoais mais do que pelo bem comum.
  • Juventude sacrificada, privada de educação, oportunidades, empurrada para o exílio ou para sobreviver em condições indignas.
  • Governos fracos ou cúmplices, abrindo espaço para a insegurança, gangues armadas e perda de soberania efetiva sobre grande parte do território.
Fedo Bacourt, coordenador da União Social dos Imigrantes Haitianos, segura a bandeira haitiana. Foto: Fronteiras Cruzadas.

A bandeira: um chamado à união e à renascença

Esta bandeira que celebramos hoje não deve ser reduzida a uma simples imagem nas paredes, camisetas ou discursos oficiais. Ela é um lembrete vivo de nossa luta comum, de nossa origem revolucionária, de nossa promessa ainda não cumprida.

Sim, nossa bandeira nos une. Ela é nossa força. Ela carrega as cicatrizes do nosso passado e os sonhos do nosso futuro. Ela fala à nossa consciência coletiva:

“Vocês foram livres uma primeira vez… o que fizeram com isso?”

Hoje, nosso verdadeiro desafio não é mais a liberdade diante do colonizador branco — essa luta foi vencida por Dessalines, Toussaint, Christophe, Pétion e Capois.

Mas uma nova batalha está diante de nós: a da liberdade interior, da emancipação moral, intelectual, social e espiritual.

Sim, precisamos de uma segunda independência, não contra um invasor externo, mas contra os novos colonizadores negros:

  • Aqueles que exploram o povo com a cumplicidade de forças estrangeiras,
  • Aqueles que saqueiam os recursos naturais sem investir no futuro do país,
  • Aqueles que usam o poder não para servir, mas para enriquecer,
  • Aqueles que dividem para reinar e destroem para dominar.

Uma mensagem de esperança para as gerações futuras

Apesar das dores e fracassos, ainda acreditamos no Haiti.
Acreditamos que esta terra, consagrada pelo sangue dos ancestrais, pode renascer.
Acreditamos que ainda é possível reconciliar os filhos deste país, restaurar a justiça, devolver a esperança à nossa juventude.
Acreditamos que esta bandeira, erguida alto nas colinas do Haiti, pode ainda tremular como sinal de esperança para o mundo inteiro.

Mas isso exige um despertar, uma tomada de consciência coletiva, uma mobilização nacional. Cada um de nós deve se fazer uma pergunta simples:

“O que posso fazer, eu, para que os próximos 222 anos sejam melhores do que os anteriores?”

Não deixemos morrer o ideal de 1803

Neste 18 de maio de 2025, dizemos com força: a bandeira não morrerá!
Enquanto carregarmos em nossos corações o ideal de liberdade, união e justiça, o Haiti viverá.
Enquanto formos capazes de criar filhos conscientes, cidadãos responsáveis, líderes íntegros, o Haiti renascerá.
Enquanto olharmos para nossa bandeira não como uma herança engessada, mas como um chamado à ação, teremos uma chance de realizar o que nossos ancestrais começaram.

Viva o Haiti!
Viva nossa bandeira!
Que o futuro honre finalmente o sacrifício dos heróis de 1803.

* Vania Belotte Vania Belotte é pedagoga formada pela Université Autonome de Port-au-Prince, UNAP e coordenadora do Ministério Internacional da Fundação Aleluia (FAMI)

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